Turismo

 
 

 

Carta de uma Turista Acidental
[por Eliane Peixoto]

foto: lago de Zurique, ao fundo a cidade antiga

Caríssimos leitores e leitoras,

Cá estou, imbuída no propósito de contar sobre minha segunda visita à Suíça. Não acho que seja uma tarefa fácil, porque como dizem as primeiras palavras dessa missiva, por dez dias, no início de agosto, fui realmente, em estado agudo, uma turista acidental. Não se avexem! Eu explico o motivo da deixa.

O que me levou ao país do chocolate, pela segunda vez, é de carne e osso, tem dois braços, duas pernas, dois olhos... Opa!!! Pois é, essa demora toda para dizer a vocês que, apesar de tão escasso ultimamente, o amor ainda é capaz de surpreender, nos surpreender!
Como manter uma relação à tanta distância ? Boa pergunta. Para respondê-la, só mesmo apelando para a física quântica.

Os apaixonados nunca estão onde os vimos ou acreditamos que se encontram. Dizem os cientistas que quando amamos somos como ondas que se propagam. Todo o nosso ser flui e embora aparentemente esteja aqui, no Brasil, sentada à mesa, no ponto de ônibus ou na mesa de um bar, de fato estou aí, onde o meu coração me arrebata. Como podem ver, a existência humana já não pode ser considerada fora da dimensão quântica. Entenderam?
Como uma boa impressionista que sou não posso deixar de mencionar que também me rendi aos encantos de Zurique e Genebra –não que não tenha amado outros lugares, cidades menores. Reconheço o charme das casas e sacadas floridas, a tranquilidade, parece que tudo funciona por aqueles cantos-, enfim, a qualidade de vida que encantaria qualquer brasileira acostumada ao caos social e econômico do Brasil, porém...

Deixei-me levar pelas construções imponentes, pelo multiculturalismo de Genebra e Zurique. Em meia hora de caminhada pode-se encontrar indianos, árabes, tailandeses e muitas outras nacionalidades. A impressão é que estava diante de um grande mosaico humano, em movimento constante. Me embalei na frenética agitação dos cafés, dos bares e restaurantes em noites e dias de surpreendente calor europeu. Uffa! E quê calor! Sem dúvida esse último verão europeu ficará marcado como um dos mais quentes da história do continente.
Para quem aprecia a arte sacra, em Zurique está uma boa pedida: a Fraumünster oferece os espetaculares vitrais de Marc Chagall. Contando momentos da história bíblica em grandes colunas de vidro da igreja, e, sem perder a delicadeza, o artista imprime seu estilo arrojado e inconfundível aos vitrais.

Com certeza, em Genebra e Zurique há muito mais coisas para se ver e fazer mas, para uma turista acidental até que fui à forra.
Agora, de volta à terrinha, é só saudade – como é duro cair na real!
Então gente boa, além de tudo, essa viagem também contribuiu para uma certa dose reflexão.
Imaginem só o Brasil, com sua diversidade de cores, sabores, rítmos, biodiversidade, com pelo mesmo trinta porcento do padrão de vida suíço. Seria mesmo um paraíso na terra. Ainda bem que sonhar não paga... Mas venhamos e convenhamos, até que mereceríamos.
Afinal, são quinhentos e dois anos de sem terra, sem teto, sem emprego, sem moradia, sem nada. Dá-lhe esperança ao povo... agora é Lula! Com certeza muitos brasileiros e brasileiras deixariam de tentar a sorte em outros países, sobretudo, de serem vistos como cidadãos de segunda categoria, como são por esse mundo afora.

Para falar a verdade, não me agradou conhecer o reduto da prostituição em Zurique e Genebra, onde (sobre)vivem prostitutas brasileiras, cubanas, russas, colombianas, tailandesas, etc. Nada contra o metiê e nem a favor de falsa moralidade, mas é que se pensarmos um pouco mais, vamos ver que essa situação faz parte de um problema bem maior, convertido na desigualdade entre as nações.
Por certo, esta situação é só mais um reflexo do capitalista e sua versão mais cruel: o neoliberalismo. Aliás, não é novidade que a falta de perspectiva em países como o Brasil tem levado milhares de pessoas a emigrarem em busca de uma vida melhor e mais digna na Europa e nos Estados Unidos. A questão é: raramente encontram.
Como vocês vêem esta viagem foi extremamente instrutiva, até quando tiro férias por engano... Vou encerrar, porque estou captando "ondas” – lembram da história da física quântica?- e elas estão dizendo que vocês já estão cheios desse papo. Prometo da próxima vez ser mais "clean”.

Ah! já estava me esquecendo da boa nova: a primavera chegou e com ela JABOTICABA!!!